domingo, 18 de junho de 2017

Beatriz

Hoje, vamos contar a estória de Beatriz.

Vem de família de seis irmãos, pai perdido no álcool, mãe conivente com atos grotescos do pai, perde os pais aos doze anos de idade.
Vem embora pra região metropolitana, viver na casa de uma das irmãs mais velhas já casada e com filhos.

De cor morena e cabelos longos e negros, Beatriz tinha uma beleza ímpar, que arrancava olhares pecaminosos dos homens, mas ela era muito recatada.
É molestada pelo cunhado, que a ameaça de morte caso ela venha a revelar a alguém.
Aos quinze anos, ela conhece um rapaz que a convida pra ir morar com ele.
Sem pensar duas vezes, e para se ver livre das garras do cunhado, da qual esta a três anos sofrendo estes abusos, ela arruma sua trouxa de roupas e vai.

Tinha tudo pra ser uma estória com final feliz.Alberto, rapaz jovem mas trabalhador, cheio de responsabilidades, carinhoso, amigo e atencioso, era caminhoneiro aos 22 anos.
Logo nos primeiro de união deles, ela engravidou e teve um menino.
Belo dia Alberto sai pra fazer uma viagem que atravessaria o país,e acabou sendo vítima fatal de um assalto.

Beatriz fica viúva, com filho pequeno, sem estudo, sem profissão, pois aprendeu apenas a vida do lar.
Herdou a casa de Alberto, ao menos tinha um teto, mas o que fazer da vida?
Ouviu conselho de uma vizinha, e começou a lavar roupa pra fora, era tudo que podia fazer aos 17 anos com filho pequeno.
Como tinha bastante clientes, logo foi trabalhar como faxineira em duas das casas para quem lavava pra fora, assim a comadre cuidaria do menino, nos dias em que ela trabalharia fora.
Não demorou muito para que caísse no encanto de um dos patrões , que a indicou, para uma amigo que precisava de uma doméstica, a proposta era tentador, e podia levar o menino junto.

Acabou conhecendo Antonio, o motorista desta família, que não poupava galanteios e elogias a ela.
Não demorou muito para que se envolvessem.
Mas nem tudo era tudo perfeito, Antonio se transformou ciumento, e possessivo.Em seguida o patrão foi promovido e mudou de cidade, Antonio ficou de motorista através de indicação, e ela ficou em casa. Voltou a trabalhar como lavadeira e faxineira para que não perdesse sua renda.
Antonio começou a beber, chegava tarde, a agredia na frente do menino que estava agora com 8 anos, em idade escolar.

Beatriz se via coagida, mandava ele ir embora e dizia que nem morto sairia de lá.
As agressões eram cada vez mais frequentes, e cada vez piores, pois o ciúme era demais, tinha virado uma obsessão. Até que ela a proibiu que ela saísse para trabalhar, ela não obedeceu, e acabou acorrentada pelo pé. Beatriz rezava e pedia a Deus uma solução, mas era difícil, pois quando Antonio saia para o trabalho levava  o menino para escola que era de turno integral, ele só soltava a corrente quando chegava ema casa, para que  o menino não visse.
Ele cuidava do menino, mas judiava muito de Beatriz.

Até que um dia, ela teve uma ideia, embora soubesse muito pouco do alfabeto, pois saiu da escola logo após a alfabetização, escreveu um bilhete no caderno do menino, e pediu que que quando ele chegasse na aula, mostrasse o caderno com a lição pronta para a professora.
Era um pedido de socorro.
Assim aconteceu, a diretora da escola chamou  a polícia, e foram até a casa de Beatriz.
Quando Antonio chegou, deparou-se com polícia e a diretora, tentou-se explicar, dizendo que estava sob efeito da bebida, não sabia ao certo o que estava fazendo  e que achava que sendo sorvido por uma força do mal.

Toninho agora com quase onze anos, tinha uma mistura de sentimentos, as vezes achava que o padrasto a qual chamava de pai, estava coberto de razão, as vezes achava que a mãe se comportava mal pelo que ouvia da boca suja de Antonio.
Enfim, passado um semana, tudo começou de novo e cada vez pior, ele dizia que se ela o denunciasse,ele voltaria e mataria ela e o menino.
Ela se questionava muito, pois se ele não gostava mais , porque não iria embora? Porque não deixava viver sua vida em paz,  por que tantas surras e agressões verbais, já que ela era uma mulher honesta, não saia de casa, a não ser para trabalhar ou ir as compras.

Muitas perguntas assombravam sua mente mente, ela já tinha perdido a vaidade, a vontade de viver.As preocupações lhe sinalizam o rosto com rugas, fios brancos surgiam em seus cabelos, sua vida estava acabando e ela não tinha encontrado a felicidade como mulher.
Certo dia Antonio sai mais cedo do serviço e vai para o bar beber, lá ocorre uma briga da qual, ele tenta ajudar um amigo, e acaba sendo ferido gravemente.
As horas passam e a Antonio não chega e o menino também não.
Ela vai em direção a escola temendo te acontecido algo com filho. Chegando lá ela constata que Antonio realmente não apareceu. Em sua imaginação, ela acreditava que ele tinha ido embora de vez.

Na época telefone era artigo de luxo e celular só coisas dos filmes, dois dias depois ela recebe um telegrama do hospital municipal, que lhe chamava com urgência.
Lá chegando, descobre que Antonio esta entre a vida e a morte, pois o ferimento foi profundo, atingindo órgãos vitais, e com uma faca velha e enferrujada, se sobrevivesse , poderia ficar com várias sequelas.
Beatriz entra em desespero, pois mais uma vez iria passar por uma tormenta na vida. Ele permanece por mais um mês hospitalizado, e acaba sendo vitimado por uma infecção generalizada.
Lá vai ela viúva mais uma vez, e mais um recomeço, se sentindo velha e desamparada, despreparada para recomeçar.

Vendeu a casa e foi pra capital, comprou outra na periferia e decidiu sair dos parâmetros normais, dando uma guinada na vida.
Chegando na nova vila, ensinou outras mulheres sem renda, a lavarem roupas, e uma delas a ensinou a fazer doces.
Acabaram montando um negócio de doces por encomenda, onde ela prosperou fazendo doces para festa, voltou a estudar, formou o filho, ampliou seu negócio.
Começou a curtir a vida, sair com as amigas, ir as festas, bailes, fez muitos amigos, tinha alguns flertes, mas não quis casar mais.
Tinha medo da violência, de se aproximar de alguém de novo.
Hoje com 50 anos, ela recomeçou a vida amorosa, viaja, passeia, curti o filho e os netos,mas é só namoro. Foi investindo seu dinheiro em outros imóveis e vive de renda.
Sua estória de vida encorajou outras mulheres a mudarem suas próprias estórias.
Pois como ela mesmo diz, hoje tem a lei Maria da Penha, a polícia, que ajuda  punir estes homens agressores, na época dela não tinha.
Quantas Beatrizes, Marias, Adrianas, Beneditas, Franciscas, e tantas outras conhecemos todos os dias.
Espero que este relato de vida da Beatriz, possa encorajar tantas outras mulheres pelo país a fora.

Os nomes e locais são fictícios, e sempre serão preservados .

A Crítica

Prezadas amigas leitoras
Vivemos num mundo rodeado de clichês e preconceitos em que a mulher é tida como objeto ou propriedade de seu cônjuge.

Vivemos num país em que nascemos livres, e as mulheres tem seus diretos, sonhos e desejos, assim como igualdade dos demais cidadãos.
Li numa reportagem, que as mulheres vítimas de violência doméstica são em sua maioria de raça negra, e de classes inferiores.
Na verdade sabemos que não é. Pois toda semana vemos reportagens de mulheres de nível acadêmico, caucasianas, de classe A.

Fato é que a violência doméstica atingi todos os níveis da nossa sociedade.
Penso que a união faz a força sim, se explicar os direitos amparados por lei, conseguiremos eliminar este tipo de crime, que muitas vezes, é seguido por padrão cultural machista.
Ninguém é dono de ninguém, todos temos direitos e desejos, sonhos e fantasias.
Devemos nos unir na causa e incentivar amigas, colegas, familiares, pois todo mundo conhece alguém que é vítima deste crime absurdo.

Os filhos muitas vezes, ficam contra as mães, e a favor dos pais , quando se busca a delegacia para se fazer uma Denúncia na Maria da Penha.
Estes mesmos filhos, deveriam se perguntar, quantos deles foram concebidos, de uma violência sexual(estupro).
Ainda que seu filho tenha sido fruto de ato horrendo como este, as mães lutam como leoas, para dar segurança a sua prole.Normalmente elas são criticadas pelo seus filhos homens, que deveriam pensar que o mesmo poderia ocorrer, caso eles venham ter FILHAS.

É muito fácil criticar ou condenar uma mulher que vive esta situação. Devemos apoiar, e incentivar pessoas que sofrem este tipo de absurdo.
Pois muitas delas já foram salvas por denúncias anônimas, que quando a polícia chega, quase não a tempo para salvá-las.
Estamos sempre a disposição, para contar relatos de mulheres que sofreram, e conseguiram vencer, dando a volta por cima.

UMA SALVA TODAS, TODAS SALVAM MAIS UMA

É  com muita tristeza,  que lhes conto que recebi estórias de violência doméstica de todo país, mas não do nosso estado RS. Parece que nos...